domingo, 15 de junho de 2008

Valentina


Pra você, que pensa como eu e fica feliz, quando "o que não é convencional, o que não é adequado, o que não é (dito) normal", é vencido por que alguns (abençoados sejam!) conseguem enxergar que pessoas são mais, MUITO MAIS, do que padrões e convenções sociais e legislativas.


Após 2 meses, bebê de mãe com síndrome de Down e pai com atraso mental é registrado
Plantão Publicada em 13/06/2008 às 08h34m
Jussara Soares, Diário de S.Paulo
SÃO PAULO - Nascida há dois meses e três semanas, o bebê Valentina foi finalmente registrada nesta quinta-feira no cartório da cidade de Socorro, a 135 quilômetros da capital. Filha de Maria Gabriela Andrade Damate, de 27 anos, portadora de síndrome de Down, e de Fábio Marcheti de Moraes, de 28 anos, que possui um atraso mental, ela teve a certidão de nascimento negada porque o pai não conseguia declarar a paternidade. Neste caso, ela deveria ser registrada apenas no nome de Maria Gabriela - o que não foi aceito pela família dela.
A emissão da certidão de nascimento foi determinada, na terça-feira, pela juíza Érica Brandão, da 2 Vara Cível do município. Diante da juíza e do promotor Elias Francisco Chaib, mesmo com dificuldade, Fábio conseguiu declarar que era o pai de Valentina e namorado de Gabriela. E fez questão de enfatizar sua participação para a concepção da filha.
- Perguntaram se ele mantinha relação sexual com Maria Gabriela, e o Fábio disse que era todo dia - diverte-se a avó materna, Laurinda Ferreira de Andrade, de 51 anos, que procurou o Ministério Público para que a neta tivesse nome de pai e mãe no registro.
Com a certidão da filha em mãos, Fábio era só felicidade.
- Agora eu sou pai. Até ontem eu não era - disse Fábio, com a filha no colo.
Como ele não sabe escrever, coube à Gabriela assinar o registro de nascimento.
- Estou muito feliz - disse a mãe que, embora já more com Fábio, ainda não desistiu da idéia de se casar, "de papel passado" em cartório e na Igreja.
Para a avó Laurinda, que é quem cuida de fato da pequena e saudável Valentina, ela e Gabriela estão em papéis trocados.
- Eu fico a educação, e a Gabriela com o papel de paparicar, que em geral é a função de vó - observa Laurinda, elogiando o desempenho da filha como mãe.
- Gabriela é muito delicada. Já troca fralda e me ajuda no banho. Vou fazer questão que ela leve a filha à escola, como toda mãe - disse.
O desejo agora é que Valentina - que significa coragem e de saúde perfeita - não tenha que enfrentar outro preconceito por causa da deficiência dos pais.
- Espero que nunca mais ela passe por uma situação assim. Vou educar a Valentina para que ela tenha orgulho dos pais - disse.
Tanto esforço para ter os sobrenomes dos pais na certidão rendeu um nome tão comprido como o de uma princesa: Valentina Andrade Demate e Marcheti Moraes.
Namoro começou na Apae
O registro de nascimento de Valentina celebra uma história de amor que começou quando Maria Gabriela e Fábio ainda eram crianças. Eles se conheceram na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), de Socorro.
Há três anos, quando Fábio voltou para estudar na Apae, o casal iniciou o namoro e, logo, com o apoio das famílias, foram morar juntos. A gravidez de Gabriela só foi descoberta no sexto mês de gestação, quando Fábio confidenciou a um amigo que à noite eles ficavam vendo a barriga dela mexer.
- Isso foi um choque. Não esperava que ela pudesse engravidar, nem dos riscos para a criança e a mãe -disse a avó Laurinda.
O nascimento Valentina é um dos 50 casos registrados no mundo de filhos de mãe com síndrome de Down. As mulheres portadoras desta deficiência podem engravidar, e tem 85% de chances de gerar uma criança sem a mesma herança genética - como ocorreu com Maria Gabriela. Já os homens com a down são estéreis.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que história linda! beijos...

Unknown disse...

Carlinha, eu também vibrei imensamente com o desfecho feliz da história. Que a Valentina cresça muito abençoada!

Anônimo disse...

Que bom que não existe aborto no Brasil porque senão nenhum dos tres existiria. Tomara que nunca aconteça isto aqui! Parece um conto de fadas!